01 February, 2007

Uma lição de historia (parte III)

A questão Palestiniana

Parte III: 1948-1967

Com o fim do mandato e a proclamação do Estado de Israel em maio de 1948, os sionistas continuaram a ocupar territórios árabes, provocando a entrada na Palestina dos exércitos regulares dos países vizinhos (Síria, Líbano, Transjordânia e Egito), dando origem à guerra de 1948 ou primeira guerra árabe-israelense – conflito conhecido ainda como a Guerra da Palestina (para os países árabes), a Guerra de Independência (para os judeus), ou ainda o Desastre (para os palestinianos), embora a história mostre que de fato trata-se de uma Guerra de Colonização.
A intervenção dos países árabes mostrou-se totalmente inefectiva diante da superioridade militar das forças israelenses – que além de serem bem equipadas com armas adquiridas dentro e fora da Palestina durante o período de mandato, eram mais bem treinadas, sendo formadas a partir de vários grupos armados como a Brigada Judaica, a Haganah, a Palmach, a Stern e a Irgun.
Em dezembro de 1948, o exército egípcio havia sido empurrado para o sul e Israel avançou para o Deserto do Sinai, evacuando-o após pressão internacional; no norte, as forças israelenses derrotaram as pequenas forças libanesas e sírias e capturaram parte do Líbano, evacuando esta área após o armistício que pôs fim aos conflitos em 1949.
Ao final da guerra, Israel tinha se apoderado de uma área duas vezes maior do que a designada pelas Nações Unidas, ocupando quase todo o território da Palestina – com exceção da Margem Ocidental (ou Cisjordânia, ocupada pela Legião Árabe da Transjordânia) e da Faixa de Gaza (ocupada pelo exército egípcio). O Estado dos palestinianos, previsto pela ONU, não se veio a tornar uma realidade, e o seu território foi dividido entre Israel, Transjordânia e Egito.
Segundo Itamar Rabinovich, foram os seguintes os factores que determinaram a vantagem israelita no conflito: liderança única, ao contrário dos Estados árabes; sociedade e população mobilizadas para o esforço de guerra; obtenção de armas da Checoslováquia; capacidade de movimentação rápida das forças.
Com o avanço israelense, a população local em cada área sucessivamente conquistada abandonava suas aldeias e cidades, em pânico diante do terror que os grupos para-militares sionistas espalhavam entre a população palestiniana. A agressiva e desumana estratégia israelita, arrasando aldeias inteiras com seus bulldozers, queimando e destruindo plantações e celeiros, e trucidando a população civil, provocou um êxodo de refugiados para os países vizinhos – especialmente Líbano e Transjordânia. “O estupro tornou-se uma arma usada para aterrorizar os civis árabes na Palestina. O estupro de mulheres árabes seria notado em várias outras atrocidades sionistas após Deir Yassim.
Um relatório da ONU estima em 726.000 o número de palestinos refugiados resultantes dessas hostilidades ao final de 1949 – cerca de metade da população local (processo de expulsão do povo palestino de suas terras iniciara-se de fato com a espiral de violência dos anos 1930, que precipitou a fuga em massa das classes alta e média árabes das grandes cidades, especialmente Haifa, Jaffa e Jerusalém, e suas comunidades rurais satélites, porém só tomou proporções alarmantes nos anos 1948-49, e posteriormente em 1967.
Essa política premeditada de expulsão da população local palestina, feita inicialmente através da pressão econômica e a partir de 1947 através das armas, vem sendo reconhecida pelos próprios historiadores israelitas (os chamados revisionistas) como uma característica intrínseca do sionismo. Apesar das atrocidades cometidas pelos grupos paramilitares sionistas serem bem conhecidas e relatadas por testemunhas, por historiadores e por organismos internacionais, ainda há alguns historiadores israelitas e pró-sionistas que afirmam que estes grupos não desempenharam papel importante na expulsão dos palestinianos de suas aldeias Esta tese não encontra fundamento na realidade e é criticada inclusive por outros historiadores israelitas.
Os anos compreendidos entre o final da década de 1940 e os nossos dias testemunharam a manutenção do conflito entre israelitas e árabes. Visões mais simplistas encontram, nesse período, várias guerras entre árabes e israelitas – como a de Itamar Rabinovich, que identifica sete guerras entre novembro de 1947 e junho de 1982. Essas classificações, embora funcionais para os propósitos do relato histórico, obscurecem o fato de que na realidade trata-se da mesma guerra que vem sendo travada desde os anos 1930, quando a colonização sionista da Palestina tornou-se definitivamente conflituosa com a sociedade árabe local. Desta forma, o mais recomendável é considerar que a guerra árabe-israelense é a mesma desde os anos 1930, porém com diversos ciclos de violência, sempre provocados por um único conflito: a expansão sionista versus a resistência palestina e dos vizinhos árabes de Israel.
Feita esta importante ressalva, pode-se utilizar para fins analíticos a classificação proposta por Rabinovich, que aplica o termo guerra a cada um dos momentos de erupção de violência, embora o próprio autor reconheça a perenidade do conflito ao afirmar:
“Não se percebeu imediatamente que a guerra [de 1948], em vez de decidir o conflito, contribuiu para sua perpetuação e exacerbação.”
São os seguintes os sete momentos principais do conflito árabe-israelense, segundo Rabinovich:
1) guerra civil de facto entre adoção do plano de partilha da ONU em novembro de 1947 e fim do mandato em 14/5/1948;
2) guerra em grande escala de 15/5/1948 até a assinatura do armistício em janeiro de 1949;
3) guerra de Suez, outubro de 1956;
4) guerra de junho de 1967 (Guerra dos Seis Dias);
5) guerra de atrito entre dezembro de 1968 e julho de 1970;
6) guerra de outubro de 1973;
7) guerra do Líbano, junho de 1982.
A estes se pode adicionar um oitavo ciclo de violência, iniciado em 1987 e mantido até os dias de hoje, caracterizado pela resistência palestina à ocupação israelense dos territórios de Gaza e Cisjordânia, que veio a ser conhecida como intifada – a revolta das pedras.
Ao longo da década de 1950 os antagonismos mútuos foram traduzidos em atos políticos, econômicos e militares como boicote árabe a produtos israelenses, fechamento do golfo de Tirana e do Canal de Suez aos navios de Israel, infiltração armada através das fronteiras e ataques israelenses sobre Jordânia, Faixa de Gaza e Síria. Todos os personagens envolvidos sentiam que se aproximava o ‘segundo round’ do conflito: para os árabes seria uma guerra destinada a destruir o Estado de Israel; para este, uma guerra calculada para antecipar um ataque árabe e fortalecer sua posição estratégica.
Em 1956, Israel, em coalisão com a França e Inglaterra e armado pela primeira, atacou o Egito, procurando impedir sua ascensão a potência regional sob o comando de Gamal Abdel Nasser, líder de um forte nacionalismo pan-árabe e aliado à URSS. Eram três os objetivos estratégicos israelenses: atingir o canal de Suez para abrir caminho para a operação anglo-francesa; destruir o exército egípcio no Sinai; e capturar Sharm el-Sheikh, ponto ao sul do Sinai que domina os Estreitos de Tirana.
O que foi inicialmente uma vitória militar de Israel, que com o domínio total dos ares levou somente quatro dias para atingir seus objetivos, tornou-se uma vitória política para Nasser, que continuou no poder. Sob forte pressão dos EUA e da União Soviética, que não podiam aceitar que passos tão decisivos fossem dados em área de seu interesse sem sua autorização, os ingleses e franceses foram obrigados a retirar-se do Egito e no ano seguinte Israel evacuou a Faixa de Gaza e o Deserto do Sinai. Para Albert Hourani, “esse foi um dos raros episódios em que a estrutura de poder no mundo ficou claramente revelada: a hostilidade de forças locais atraiu potências mundiais de segundo escalão em defesa de interesses próprios, só para darem de cara com os limites de sua força quando desafiaram os interesses das grandes potências.
As principais conseqüências desta etapa da Guerra foram a consolidação do poder regional de Israel e o reforço da imagem de Israel como cabeça-de-ponte ocidental entre os árabes. Os problemas levantados em 1947 não foram solucionados, e novos actores internacionais envolveram-se na questão, o que levaria dez anos depois a um novo conflito.
Um fator importante foi o crescente domínio político da Síria pelo Baa’th, partido que defendia a idéia de que a nação árabe fosse formada por um único Estado, tornando a posição radical em relação a Israel num instrumento explícito da sua política doméstica e regional. A influência do partido espalhou-se por Líbano, Jordânia, Iraque e países da Península Arábica. Além disso, esta época marca a reafirmação da Questão Palestiniana como principal questão do conflito e a aparição da OLP no cenário internacional.

(Continua...)

4 comments:

Klatuu o embuçado said...

- Não é uma bomba! :) Apenas um comementário! -

Antes de mais, apraz-me esclarecer a minha posição - em política devemos ser claros; assim entendo a Política - sou incondicionalmente pró-judaico. E assumo que este «incondicionalmente» nada tem de inocente.

Posto isto... aqui vai.
Antes de mais, considero este conjunto de posts muito útil... nada como a História para constituir o chão de uma honesta argumentação política. Claro, a História é sempre uma interpretação de factos... Talvez, por isso, a História seja a menos exacta das ciências...

Muito lhe poderia opor com outra interpretação dos factos... Mas deixo-lhe apenas duas objecções:

1. Sionismo: Parece-me que quando usa este conceito estará sempre a fazer um juízo de valor... O sionismo não é unívoco: defendeu os Judeus nos guethos de Varsóvia (etc)... mas hoje há a tendência esquerdista de o equiparar a um qualquer fascismo. E, penso ser óbvio, a maioria dos Judeus Israelitas não são sionistas... combatem pela terra que acreditam ser sua, e é tudo.

2. Os mapas: Basta olharmos para o mapa do que Israel deveria ser segundo as Nações Unidas... e para o mapa do Israel actual, com os territórios ocupados... e a um simples olhar temos que nos interrogar de imediato se as Nações Unidas à época eram constituídas por diplomatas, historiadores e geógrafos idiotas!
Alguém esperaria que uma Nação sobrevivesse num pequeno território descontínuo, rodeada por Povos que nunca aceitaram que os Judeus regressassem à terra dos seus antepassados e aí formassem um Estado???

Mas lamento o sofrimento dos Palestinianos, acho que têm direito a um Estado e a uma Pátria... E sempre tive a ideia de uma Confederação Judaico-Palestiniana... com Jerusalém património da Humanidade... terra de todos os Homens e de todas as Pátrias... terra das Nações Unidas e com a sua Sede lá situada! Mas já é tarde para isso...

Abraço.

Intervencionista said...

...E os comentários são mais que bem vindos, sejam eles favoraveis ou não á minha postagem.
dito isto, kero desde já responder aos 2 pontos...
1)Claro que a maioria dos Judeus Israelitas não são Sionistas, mas infelizmente penso que não seja apenas uma tendencia o equiparar Sionismo a algo muito semelhante ao fascismo (á luz da nossa epoca logicamente), acho mesmo que é uma realidade.
Para quê continuar a sitiar aquele povo miseravel? Já nada tem senão a sua dignidade, e mesmo essa...
No post, não havia intenção de fazer qualquer juizo de valor menos valido relativamente ao Sionismo. Tentarei alterar essa ideia no post seguinte.
2) Infelizmente acho mesmo que os politicos da epoca eram ainda mais idiotas do que os de hoje, ou pelo menos o panorama politico internacional "mexia-se" de uma forma diferente.
O conflicto Israelo-Arabe encontra-se em minha opinião numa fase decisiva. O "elemento" Irão, talvez possa brevemente desiquilibrar a Balança no médio Oriente (18 anos de politicas internacionais falhadas, dão mais um perigo ao mundo).
Quanto á sobrevivencia de Israel num hambiente hostil, deve-se principalmente á ajuda dos paises amigos que sempre a apoiaram, até aos dias de hoje.

Concordo com a ideia final, tambem sabendo que a mesma infelizmente é quase uma utopia.

Obrigado pelo comment.

Lord of Erewhon said...

Como não sei o teu mail vai assim (depois apaga)...

Olha o mau gosto destes montes de merda!
http://motoratasdemarte.blogspot.com/2007/03/descobri-minha-prxima-presa-como-acham.html

http://motoratasdemarte.blogspot.com/

Lord of Erewhon said...

A Clarissa foi lá desancá-los - acho que se precipitou mas cada um sente como sente - e já a contemplaram com um «belo» post!
São a corja dos Braganza Mothers... e não só.

Filhos da puta!